sexta-feira, 2 de março de 2018

Arte Curitibana

    Nesta cidade de símbolos tão peculiares quanto belos - uma araucária, um pinhão, um céu cinzento - há quem goste da arte. Seguem, pois, um poema e um retrato, ambos produções curitibanas. O soneto é de autoria do amigo Wagner Schadeck, que é poeta, tradutor e ensaísta. A ilustração retrata o artista, feita por mim.




ÉDIPO

Nesta cidade de almas enlameadas,
Como dentes que saltam dos cavoucos,
Os paralelepípedos aos poucos
Podres deixam banguelas as estradas.

Os seus sonhos são lâmpadas queimadas
Num corredor de hospício cujos loucos,
Com colchas no pescoço e gritos roucos,
Em fuga se enforcaram nas sacadas.

Em sua entrada, à luz de olhos alertas,
Que piscam pela madrugada adentro,
Por praças e avenidas mais desertas,

Nos muros e edificações do Centro,
Meu olhar nos hieróglifos constringe:
Como decifro esta voraz esfinge?






Retrato de Wagner Schadeck, João Niehues.